domingo, 12 de fevereiro de 2012

A verdade Como funciona o tráfico de drogas, qual a doença?

Eu fico imaginando o quanto a questão das drogas tornou-se tabu na sociedade. A política conservadora e proibicionista -- que vigora até hoje -- começou a reprimir o uso de drogas ainda nos anos 30. Essa política veio de fora para dentro, digamos. Veio do Estados Unidos para o mundo. O cânhamo, desde os tempos imemoriais, era usado pela humanidade como fonte de fibras naturais e, também, como composto medicinal. Outras drogas eram toleradas. Lembrem-se, Freud experimentava o efeitos da cocaína e tentou, por anos, comprovar seus benefícios.

O problema não está nas drogas, mas nas políticas desenvolvidas para elas. Explicando, o uso da cannabis aumentou nos EUA com a Lei Seca. O uso da droga, antes restrito aos grupos étnicos latinos e negros, passou às classes médias. Além desse "problema", existia uma grande pressão econômica de setores da industria têxtil-sintética e petroquímica para erradicar o cânhamo, concorrente direto das fibras de nylon. Nessa época a maconha foi proibida. O uso proibido e as plantações erradicadas do EUA, para a alegria da indústria dos derivados de petróleo que perderam um concorrente.

A política dos EUA foi expandida aos outros países do globo. Ok. Até aí, tudo "bem". O problema maior não foi gerado com a proibição da venda e do consumo, mas no combate feroz liderado por Nixon, com a guerra contra as drogas. A reação conservadora dele teve relação com o movimento hippie e da contracultura. Parte da juventude, ligada aos pensamentos de Ginsberg e outras filosofias, questionava o uso da violência no Vietnã e atormentava o conservadorismo norte-americano. Para os conservadores, a culpa eram das drogas. Afinal, quem é contra o país, só pode estar chapado.

Mas voltando aonde quero chegar. Com a instalação da guerra às drogas, surgiu o mesmo tipo de bandido que se beneficiou da proibição do álcool: os traficantes. Um produto que muitos querem, mas é proibido, torna-se caro. E, como o mundo é movido à dinheiro, alguém iria se interessar pelo negócio.

Acho que todos concordam que, como está estabelecida, a políticas anti-drogas não funcionam. Custam caro, são ineficientes e enriquecem grupos criminosos difíceis de combater. Tentam, de todas as maneiras, erradicar o uso através da proibição, da coação policial, das penas da lei. E ainda culpam usuários. Criminalizam e marginalizam por fazerem uso e "financiar" o tráfico de drogas. Mas interessa financiar o crescimento do medo e a manutenção do crime organizado e dos núcleos de poder que nascem com o tráfico de drogas.

Proibir, legalizar ou regular?

Existem soluções contra o tráfico de drogas e o poder de dominação que este exerce sobre nossas vidas. Um exemplo de como a regulação rígida pode dar mais resultados que a proibição: o cigarro. Empresas lucram com ele, correto. Mas o governo fica com uma grande fatia dos "lucros" da indústria tabagista. O consumo, ano a ano, cai. Por quê? O Estado criou ferramentas para mostrar o quão nocivo é o consumo do tabaco. Colocou fotos no cigarro, patrocinou campanhas, fez o diabo. E, na geração saúde que vivemos, o consumo de tabaco é repudiado.

Com o cigarro, temos os impostos destinados -- pelo menos na teoria -- ao tratamento de saúde dos dependentes daquela substância. Ou seja, seguindo essa lógica, o tabagista financia seu tratamento de saúde, não gera "ônus" à sociedade quando consome tabaco, pois paga caro ao Estado por aquele consumo. Mas, com as drogas, é diferente. O Estado não tem controle algum sobre a substância, seus efeitos, seus problemas e, no fim, arca com os ônus dos usuários e gasta trilhões com o combate ao incombatível.

Mas, como disse antes, interessa ao Estado a manutenção do combate ao tráfico e a proibição das substância psicoativas. Não por uma questão de saúde ou segurança, mas por Poder. O que é mais fácil controlar? Uma sociedade com medo. Temos medo que traficantes e usuários roubem nossas casas, dominem nossas vidas e tomem controle do mundo. Por isso, interessa, sim, combater com a política terrorista o uso de drogas, sua venda e tráfico. Pois, dali, nasce uma ferramenta de controle social poderosa: o medo. Criam o medo para nos proteger dele. Dão armas ao inimigo que, como em Orwell no célebre 1984, bombardeiam nossas vidas. E por isso precisamos do Estado. Para nos proteger dos inimigos. Ou precisamos de inimigos para nos proteger do Estado?

Por Daniel Vieira
fonte: http://www.loucuraembutida.com.br/drogas/

Nenhum comentário: